ESG, Narrativas, Valuation e o Futuro das Relações com Investidores

Por Renato FazzolinoDiretor de Relações com Investidores e apresentador do podcast TAO Investimento

Publicado em 03 de AGOSTO de 2022


A esta altura, um artigo sobre ESG que fale sobre a definição do acrônimo, exemplos de indicadores ou promessas de um mundo melhor, a meu ver, já não garante o melhor uso do tempo do(a) leitor(a). Afinal, vivemos dias de guerra, crises humanitárias, energéticas e de alimentos. Unicórnios demitem. Petroleiras batem recordes em valor de mercado, uma delas, inclusive, chegando ao pódio de maior market cap global ao final de maio/2022. Investimentos bilionários vêm sendo anunciados para a mineração de carvão e exploração de petróleo e gás. A maior gestora de ativos do mundo sinalizou que apoiará menos propostas climáticas em 2022, em comparação a 2021, após afirmar em 2020 que sustentabilidade havia se tornado o pilar central da sua filosofia de investimentos.

Pelo visto é hora de separar o joio do trigo.

Sim, ESG é fundamental para questões como transição energética, diversidade e preservação do meio ambiente, mas valuation fala outra língua. Uma língua numérica, cujas narrativas retratam termos como EBITDA, capital de giro, ativos, CAPEX, margens, e, consequentemente, a viabilidade econômico-financeira. Uma língua cuja tradução ao universo ESG ainda é incerta.

O resultado? 58% dos CEOs globais admitem a prática de greenwashing, conforme pesquisa da Harris Poll feita em parceria com a Google Cloud. Quanto aumenta o valuation se a empresa contratar colaboradores trans? Quanto reduz se não reciclar lixo? Difícil dizer, mas não por falta de esforços.

O ponto aqui é a complexa reconciliação entre narrativas financeiras e narrativas reputacionais. Inversamente proporcional é a fácil argumentação de que apenas a viabilidade econômico-financeira tem razão, e, portanto, empresas “devem” se tornar ESG. Como vimos, esta diretiva não está surtindo os efeitos esperados.

O que fazer então?

Não entender ESG como ponto de chegada, mas sim como lembrete, tanto para investidores como empresas, de que precisamos de uma nova definição de viabilidade econômico-financeira. Esta nova definição virá do futuro das relações com investidores ao vincular estratégia, comunicação e planejamento financeiro aos impactos positivos que tanto precisamos.

Renato Fazzolino

Diretor de Relações com Investidores

Graduado em Ciências Contábeis pela PUC-SP, MBA pela FGV e certificação internacional em Programação Neurolinguística. Tem 17 anos de experiência internacional em M&A, relações com investidores, desenvolvimento de negócios e planejamento financeiro, quatro deles vividos na Alemanha. Também é apresentador do podcast TAO Investimento.