RELAÇÕES COM INVESTIDORES 2.0 – A ERA DAS PESSOAS FÍSICAS

Por Renato Fazzolino, diretor de Relações com Investidores

Publicado em 7 de dezembro de 2021

“A simplicidade é o último grau de sofisticação”. Estas palavras, ditas por Leonardo da Vinci, oferecem uma provocação interessante acerca da relevância da comunicação entre gestores, empresas de capital aberto e seus investidores.

Relevância, contudo, depende do ponto de vista de quem recebe a informação.

Aqui entra o profissional das relações com investidores, ou RI. Alguém com a difícil missão de traduzir uma miríade de informações financeiras, societárias e comerciais em narrativas que atendam às expectativas de diferentes stakeholders – internos e externos – ao mesmo tempo em que monitora o feedback desta comunicação em um implacável termômetro chamado mercado de capitais. Termômetro cuja temperatura não é medida em graus celsius, mas sim em valuation.

Dentro do espectro regulatório, a atividade de RI é rigorosamente padronizada. Ou seja, a empresa ou gestor registrado em bolsa deve reportar seus números, fatos relevantes e atos de governança em sistemas, prazos e formulários desenhados para garantir que todos acessem as mesmas informações, ao mesmo tempo.

RI, contudo, é muito mais do que isso. Ou pelo menos deveria ser.

Compete ao RI (i) buscar os investidores adequados à estratégia de crescimento das organizações, (ii) agir como interlocutor entre o conselho de administração e o corpo executivo na tomada de decisões e (iii) colaborar com o marketing em ações de vendas, apenas para citar alguns exemplos. Em contrapartida, o que se nota na prática são muitos departamentos de RI voltados apenas às rotinas estatutárias, regulatórias e de comunicação com analistas de investimentos.

Este modelo pode ter funcionado até agora, mas o futuro é outro.

Bem-vindos à era das pessoas físicas.

Instagram, LinkedIn, YouTube e Podcasts. Este são alguns dos canais de comunicação utilizados por investidores cada vez mais informados, jovens e que buscam retornos financeiros diversificados. Esta migração para novas alternativas de investimentos, em parte, decorre do longo período de juros baixos vivido pelo Brasil e da capilarização da educação financeira. Para corroborar este argumento, basta analisar a evolução de pessoas físicas registradas na B3. Em outubro/19 havia 1,5 milhão. Em outubro/21, o número saltou para 4,0 milhões. Um volume baixo diante dos 212 milhões de cidadãos brasileiros, porém estamos falando de um caminho sem volta.

Ainda, dentro da agenda ESG, trata-se de um grupo de investidores engajado, ativista e que não se satisfaz com palavras vagas e relatórios bem diagramados. Um grupo de investidores que pode, com um simples post ou tweet, causar uma avalanche reputacional.

Reputação, diga-se de passagem, que conversa de perto com o valuation.

Em uma pesquisa recente da Brunswick Group, dedicada ao perfil de investimentos e tomada de decisões de pessoas físicas no Brasil, duas palavras se destacam como diferenciais na hora do investimento: Confiabilidade e clareza. Além disso, 88% dos entrevistados concordam com a declaração: “Gostaria que as empresas fornecessem informações mais acessíveis e claras”.

Estes pontos reforçam algo que intuitivamente todos sabemos. O argumento de que o investidor pessoa física, apesar de melhor informado, ainda não compreende suficientemente bem a comunicação de RI.

Voltamos ao ponto inicial do artigo.

Como interpretar esta assimetria? Devemos simplificar a comunicação de RI ou educar o investidor pessoa física para compreender a comunicação atual?

Deixada de lado a tentação socrática para compreender o dilema, talvez uma mistura de ambos?

Vejam o exemplo do IPO do Nubank, previsto para dezembro/21. Criticada por alguns e elogiada por outros, a postura do banco digital para atrair investidores é de tirar o chapéu. Uma obra prima da comunhão RI-Marketing inspirada por uma simples palavra:

“Pedacinho”.

Ao oferecer um “pedacinho” do banco aos seus 48 milhões de correntistas – dos quais 35 milhões são elegíveis ao programa de ações – o Nubank potencialmente criará um novo marco para o investimento de pessoas físicas em renda variável. Um movimento que forçará outros participantes do mercado a criarem seu próprio RI 2.0, paradoxalmente, através da simplificação.

Simplificação que conduzirá à sofisticação do mercado brasileiro de capitais.

 

Renato Fazzolino

diretor de Relações com Investidores